Segundo contexto da BVS APS a Segunda Opinião Formativa (SOF) é uma fonte de informação baseada em evidências relacionadas aos problemas prioritários da Atenção Primária à Saúde. São elaboradas pelos estudantes de telenfermagem da UFMG, sendo as perguntas revisionadas e as respostas elaboradas por profissionais da área.
Teleconsultor conteudista: Daniela Neto Ferreira Melki/ Enfermeira
A Colagenase é uma enzima da fermentação de Clostridium histolyticum que tem a capacidade de digerir o colágeno no tecido necrótico1.O desbridamento enzimático de lesões cutâneas com Colagenase é uma técnica comumente utilizada na prática clínica, apesar de não ser o método de desbridamento mais seletivo disponível atualmente. Profissionais de saúde justificam sua ampla utilização sob a alegação de ser um produto de fácil manuseio e baixo custo.
Resultados de uma revisão sistemática com meta análise2 sustentam o uso de colagenase para o desbridamento enzimático em lesões por pressão, úlceras de pés diabéticos e associada a antibióticos tópicos para tratamento de queimaduras. No entanto, os estudos apresentaram alto risco de viés, representando limitações na confiabilidade dos mesmos. Sua utilização em crianças não é recomendada, não sendo aprovada pelo Food and Drug Administration – FDA1.
As orientações sobre duração do efeito da Colagenase nas lesões são distorcidas, fato que interfere diretamente na periodicidade de troca do curativo (8 em 8 horas, 12 em 12 horas, 24 em 24 horas, 48 em 48 horas?). Estudos relatam que seu uso deve ser cauteloso em pacientes debilitados devido ao aumento do risco de bacteremia e/ou sepse bacteriana. A variação de pH ideal para o uso da Colagenase situa-se entre 6 e 8. A presença de antissépticos, metais pesados, detergentes e soluções ácidas inibirá a atividade da enzima.
Apesar de seu uso rotineiro para tratamento de lesões cutâneas no Brasil, os dados sobre o efeito da Colagenase como técnica de desbridamento são muito limitados, sendo necessárias mais pesquisas independentes para justificar sua ampla utilização de maneira segura, eficaz e eficiente para o paciente.
Teleconsultor conteudista: Profa. Dra. Erica Dumont/ EEUFMG
A violência contra a mulher trata-se de um problema de saúde pública e de direitos humanos, que compõe a lista de prioridades da Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1996. O Brasil é o quinto país do mundo com o maior índice de homicídios contra as mulheres (Mapa da violência, 2015). A estimativa é de que 2,1 milhões de mulheres são espancadas por ano, 175 mil por mês, 5,8 mil por dia, 243 por hora, 4 por minuto e 1 a cada 15 segundos (Pesquisa Perseu Abramo, 2013). No país, o problema relaciona-se ainda a mulheres com os mais diversos perfis de faixa etária, cor, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual ou condição socioeconômica (SOUSA; NOGUEIRA; GRADIM, 2013).
A violência possui relação direta com as históricas desigualdades de gênero, associadas sobretudo às aprendizagens dos papéis masculinos as quais são utilizadas como justificativas para tais ações. Elas afetam as mulheres e meninas em diversas esferas de suas vidas: bem-estar, segurança, autoestima, desenvolvimento pessoal e profissional, maternidade, reprodução, saúde física, utilização dos serviços de saúde, saúde mental, habilidades, relações sociais, comunicação, família, etc. Nesse sentido, é importante destacar que tal problemática ganhou notoriedade ao ser abordada e denunciada pelos movimentos feministas.
Marco importante para discussão desta questão no Brasil e no mundo foi a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, conhecida como Convenção de Belém do Pará, promovida pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos – OEA em 1994. A Convenção de Belém do Pará resultou no Decreto nº 1.973, de 01/08/1996, que definiu o conceito de violência contra a mulher, firmou os direitos protegidos e estabeleceu diretrizes de busca por uma vida sem violência contra as mulheres. Seu Artigo 1º conceitua violência contra a mulher como “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada” (BRASIL, 1994, Artigo 1º). Outro marco para o combate à violência contra a mulher no Brasil foi a conquista da Lei 11.340, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha, com objetivo de coibir e evitar a prática de violência doméstica e familiar contra as mulheres e de estabelecer medidas assistenciais de proteção para as mesmas.
Em 2004 no Brasil foi elaborada a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher / PAISM, que incorporou em suas ações prioritárias a promoção da atenção a mulheres e adolescentes em situação de violência, reconhecendo a violência contra a mulher como um problema de saúde pública (Ministério da Saúde, 2007).
A política indica que os profissionais de saúde estejam capacitados para reconhecer a complexidade dos casos de violência, visando cuidar da saúde da mulher de forma humanizada em sua integralidade. Nesse sentido, além de identificar as situações de violência, é importante que o (a) profissional não culpabilizar essas mulheres e as ajude a refletir a ordenar as ideias e tomar decisões. É importante validar seu relato e realizar a notificação compulsória de modo a contribuir para a construção de dados epidemiológicos e de estratégias mais eficazes para o enfrentamento das situações em todos os níveis. Por fim, esclareça e respeite o direito à confidencialidade, encaminhe-a para um atendimento multidisciplinar sem gerar falsas esperanças ou supervalorizar os riscos.
Viver uma vida sem violência é um direto de todas as pessoas, de todas as mulheres!
Teleconsultor conteudista: Profa. Dra. Paula Gonçalves Bicalho; Profa. Dra. Lívia de Souza Pancrácio de Errico/ EEUFMG
Em 2013, o Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas (SAGE) da Organização Mundial de Saúde, após revisar as evidências relacionadas à vacinação e a doença Febre Amarela (FA), indicou a atualização do documento de posicionamento de 2003 da OMS sobre o uso de vacinas contra FA. Especialmente, em relação à necessidade de doses de reforço da vacina a cada 10 anos após a vacinação primária, com base nos dados de vigilância disponíveis à época, o SAGE concluiu que as falhas da vacina são extremamente raras, mesmo com o passar do tempo após a imunização. A recomendação foi que uma única dose da vacina é suficiente para conferir imunidade sustentada e proteção ao longo da vida contra a doença da Febre Amarela, não sendo necessária uma dose de reforço1.
Ensaios clínicos mostraram que 80% a 100% dos vacinados realizam a soroconversão (LNI de pelo menos 0,7) em 10 dias e 99% em 30 dias. O SAGE aponta que observações como a ausência de infecções associadas em trabalhadores de laboratórios vacinados; a ocorrência de FA apenas em pessoas não vacinadas após a inclusão da vacina no calendário vacinal no Brasil e em outros países da América do Sul e o rápido desaparecimento de casos novos durante as campanhas de vacinação durante as epidemias. Ainda se observa que as pessoas saudáveis vacinadas raramente falham em desenvolver anticorpos neutralizantes após a vacinação².
Ficou demonstrado pelos estudos, que desde que a vacinação contra a FA iniciou em 1930, apenas 12 casos de febre amarela em indivíduos vacinados foram identificados, após 600 milhões de doses dispensadas. As evidências mostram que todos os casos de falha vacinal desenvolveram a doença dentro de cinco anos após a vacinação, demonstrando que a imunidade não decresce com o tempo³. O SAGE recomendou ainda que a vigilância em países endêmicos e estudos clínicos podem possivelmente identificar grupos de risco específicos (como bebês ou pacientes infectados pelo HIV) que poderiam se beneficiar de uma segunda dose primária ou de reforço¹. A OMS, orientada pelo SAGE, revisitou as disposições relativas ao período de validade dos certificados internacionais de vacinação contra a FA que deveriam passar a trazer a informação de válido para a vida toda do vacinado¹.
Ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde do Brasil, na NOTA INFORMATIVA Nº 143/CGPNI/DEVIT/SVS/MS apresentou o estudo da OMS e, a partir dos dados epidemiológicos nacionais, revisou o esquema vacinal para a população brasileira indicando duas doses da vacina durante a vida. Em 2017, quando enfrentamos os surtos da doença em humanos, epizootias e grande procura pela vacinação, o Ministério da Saúde, por meio da NOTA INFORMATIVA Nº 94, DE 2017/CGPNI/DEVIT/SVS/MST reviu esta indicação, passando a recomendar a dose única da vacina contra FA para as áreas onde a vacina está indicada, atendendo as recomendações de 2013 da OMS.
Importante reafirmar que o papel do Enfermeiro e da Equipe de Enfermagem na imunização da população é essencial desde a garantia de uma rede de frios eficiente até a manipulação correta para a reconstituição da vacina, aplicação no usuário e identificação e notificação de eventos adversos. Além das questões relacionadas ao imunobiológico e aplicação do mesmo é preciso que os dados relativos as imunizações sejam registrados de forma correta e completa. O cidadão também deve ser adequadamente orientado quanto a importância de se guardar o cartão de vacina, pois este é documento pessoal que informa sobre o estado vacinal do mesmo.
Teleconsultor conteudista: Torcata Amorim/ EEUFMG
A Enfermeira, em especial a Enfermeira obstetra tem papel importante, autônomo e resolutivo no protagonismo da saúde das mulheres. Somos responsáveis pelo cuidado de enfermagem não somente às mulheres com problemas de saúde, mas também as sadias, nas diferentes fases da vida. Destaco as ações de Educação em Saúde como: sexualidade, planejamento reprodutivo, no pré-natal, mulheres no climatério, grupos com o mesmo interesse como de hipertensas, diabéticas, dentre outros.
Desenvolvemos diferentes ações preconizadas nos programas de saúde como a Prevenção do Câncer cérvico uterino e de Mama, Assistência pré-natal de risco habitual, Assistência a mulher no processo de parturição e nascimento (partos de risco habitual), assistência a puérpera e recém-nascido.
A realização da consulta de pré-natal de qualidade, previne complicações e diagnostica intercorrências que podem levar a morbi mortalidade no ciclo gravídico puerperal. Infelizmente, no ano de 2015 o Brasil apresentou taxas de mortalidade materna de 62 óbitos/100.000 nascidos vivos, bem acima das taxas da Organização Mundial de Saúde que determina que, 20 óbitos/100.000 nascidos vivos já é considerada.
Um dos determinantes da qualidade do pré-natal é o seu início ainda no primeiro trimestre da gravidez. Para isto, os serviços de saúde devem fazer a captação precoce e promoverem o acesso aos serviços de saúde e aos equipamentos de proteção social, em especial as mulheres mais vulneráveis socialmente, ou seja, as mulheres negras, indígenas e com baixa escolaridade.
As ações desenvolvidas pelas enfermeiras e enfermeiras obstetras, seja no atendimento (consulta), seja como ações educativas em grupos e/ou individualmente, contribuem para o empoderamento das mulheres. Isto por sua vez contribui para o autocuidado, a reivindicação dos seus direitos, consciência dos seus deveres, para prevenir ou minimizar abusos e diferentes tipos de violências, incluindo aplicação de práticas assistenciais desaconselhadas pelo Ministério da Saúde.
Estas ações atendem a Portaria nº 1.479 de 24 de junho de 2011, que institui no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS - a Rede Cegonha que “consiste numa rede de cuidados que visa assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como à criança o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e ao desenvolvimento saudáveis”.
Finalizando, destacamos que seu trabalho, deve ser em rede e com uma equipe multiprofissional. A assistência de qualidade, humanizada, respeitosa e baseada em evidências científicas contribui para melhoria dos indicadores maternos e neonatais, reduz procedimentos desnecessários, incluindo as cirurgias cesarianas, o protagonismo e a satisfação das mulheres e dos profissionais e, atende a alguns componentes da Rede Cegonha.
Teleconsultor conteudista: Dra. Regina Amélia Lopes Pessoa de Aguiar/ FMUFMG
Historicamente os programas de saúde pública tem como público específico mulheres e crianças ou doenças específicas.
A questão “saúde do homem” é um tema relativamente novo no contexto da assistência integral a pessoas e surgiu como uma ampliação da discussão sobre o câncer de próstata no início do século XXI.
No Brasil a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) foi instituída pela Portaria GM/MS n° 1.944, de 27 de agosto de 2009 e tem como objetivo facilitar e ampliar o acesso da população masculina às ações e aos serviços de assistência integral à saúde no Sistema Único de Saúde (SUS). Essa portaria estabelece que para alcançar esses objetivos é necessário atuar nos aspectos socioculturais, sob a perspectiva relacional de gênero e na lógica da concepção de linhas de cuidado que respeitem a integralidade da atenção, contribuindo de modo efetivo para a redução da morbimortalidade e melhores condições de saúde desta população.
Dados do Ministério da Saúde do Brasil mostraram que 2 / 3 dos homens brasileiros não têm o hábito de procurar serviços de saúde de forma regular ou preventiva. Em função disso, os homens como regra quando diagnosticados com alguma doença apresentam formas mais graves e tem mortalidade em idades mais precoces quando comparados com mulheres.
Para garantir melhor conscientização da importância da prevenção em saúde como um todo, mas em especial da saúde masculina, a utilização de todos os dispositivos sociais disponíveis é fundamental. E, essa ação deve ser voltada tanto diretamente para os homens com a adequada compreensão da realidade singular das masculinidades, considerando suas diversas formas de expressão e os determinantes sociais que interferem na saúde dos homens, quanto para as mulheres, pois é bem demonstrado que parcela significativa dos homens que procuram as unidades de saúde fora dos contextos das emergências o fizeram por influência das mulheres e filhos. Por isso, uma das boas estratégias para dar aos homens à possibilidade do cuidado em saúde é o pré-natal do parceiro.
Teleconsultor conteudista: Profa. Dra. Carla Aparecida Spagnol / EEUFMG
As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são recursos terapêuticos que envolvem abordagens e ofertas de novas perspectivas para o indivíduo em relação ao cuidado em saúde, dentro de uma concepção holística1. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), a legitimação e a institucionalização dessas abordagens de atenção à saúde tiveram início no país a partir da década de 80, principalmente após a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Devido a descentralização e a participação popular os estados e municípios ganharam maior autonomia na instituição de suas políticas e ações em saúde, possibilitando a implantação de experiências pioneiras dessas abordagens2.Nesta perspectiva, a introdução das PICS no SUS, sobretudo, nos serviços de atenção primária à saúde vem crescendo cada vez mais desde a aprovação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), por meio da Portaria GM/MS nº 971/2006, entretanto, incorporá-las a esses serviços ainda não é uma tarefa muito fácil. Sendo assim, salienta-se a necessidade do incentivo a um amplo processo educativo, político e problematizador que forme profissionais de saúde qualificados para atuar com as PICS. Verifica-se na literatura uma significativa dificuldade para a efetivação das políticas públicas vinculadas às PICS, visto que existem poucas instituições que formem profissionais praticantes sob a orientação de outras racionalidades médicas, em sintonia com os princípios do SUS e da Saúde Coletiva. Neste contexto, torna-se importante considerar que a Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais abriga cursos na área de saúde e de gestão em saúde e como agentes formadores devemos considerar que, após 10 anos da criação da PNPIC, o MS por meio da Portaria nº 849 de 27 de março de 2017, incluiu também as seguintes práticas: Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga3 ; totalizando 29 PICS no SUS. No âmbito da enfermagem, temos a Resolução Cofen nº570/2018 que institui as especialidades do enfermeiro por área de abrangência, na Enfermagem em Práticas Integrativas e Complementares que inclui: Acupuntura, Fitoterapia, Homeopatia, Ortomolecular, Terapia floral, Reflexologia podal, Reiki, Yoga, Toque terapêutico, Musicoterapia, Cromoterapia e Hipnose4 .Diante destas considerações a proposta de criação da disciplina optativa intitulada: Tópicos em Enfermagem Aplicada II-Gestão e implementação das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) no Sistema Único de Saúde (SUS) foi apresentada e aprovada, em 2017, pelo Colegiado de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (EE-UFMG) e poderá contribuir sobremaneira para a sensibilização e introdução do conhecimento do tema para os alunos, oportunizando a formação de novos profissionais sensíveis à essa temática.
Teleconsultor conteudista: Profa. Dra. Janaína Soares / EEUFMG
Atualmente há evidências científicas que mostram o impacto do uso precoce de álcool e outras drogas na adolescência, visto que se trata de uma fase em que o indivíduo está em pleno desenvolvimento, inclusive do Sistema Nervoso Central (SNC), o que, portanto, fazer uso de substâncias psicoativas nesta fase pode acarretar em problemas multifatoriais na vida adulta, dentre eles a maior predisposição à desenvolver a dependência de substâncias.
Dessa forma, é relevante se pensar em estratégias de promoção e prevenção relacionados ao uso de álcool e outras drogas entre crianças e adolescentes no âmbito da educação afetiva, pois é uma maneira coerente de lidar com a questão, visto que capacita os adolescentes a se tornarem emocionalmente mais preparados e a desenvolver habilidades de decisão (Midford, 2010).
Contudo, para a formulação de um projeto de prevenção ao uso de álcool e outras drogas é necessário o conhecimento da população alvo da intervenção, para que as características e as necessidades da comunidade onde se pretende atuar sejam consideradas e respeitadas, pois as práticas preventivas devem ser pensadas e planejadas de forma abrangente, incluindo aspectos que envolvem o uso de drogas, o usuário e o meio social no qual ele está inserido (Noto & Galduróz, 1999).
Os programas de prevenção necessitam ter como meta o fortalecimento das potencialidades dos jovens, devem ser criativos e precisam proporcionar um espaço para problematizar o tema em questão.
Assim, vale destacar que estratégias que busquem potencializar as atitudes saudáveis, oferecer alternativas ao uso de drogas, como atividades esportivas e culturais voltadas para a modificação do ambiente, uma vez que, os jovens valorizaram mais as práticas de prevenção interativas, como os jogos, do que apenas as ações informativas, são consideradas mais efetivas, pois, tais recursos são mais dinâmicos em relação aos outros materiais educativos e também são motivadores para faixas etárias heterogêneas de estudantes, uma vez que favoreçam o diálogo e a aprendizagem através de questionamentos e reflexões acerca do tema.
Teleconsultor conteudista: Enfermeiro Leonardo Leão Kahey Fonseca / PBH
A promoção e a proteção aos usuários de drogas dentro do SUS é um desafio contemporâneo visto a complexidade de fatores envolvidos nos cuidados e o número cada vez maior de pessoas que se encontram nessa situação. O desafio perpassa pela dificuldade de acesso dessa população aos serviços de saúde. Uma das estratégias de cuidado, promoção e proteção à saúde dos usuários de drogas é o CAPS AD, cujo o tratamento é disponibilizado na diretriz ética-clínica-política da Redução de Danos.
A Redução de Danos é uma alternativa que potencializa a promoção e proteção a saúde, onde o indivíduo é visto além do uso prejudicial da droga. Essa estratégia não é focada na abstinência ou na interrupção do uso da droga e sim na reconstrução da autonomia do sujeito, por meio de redes de suportes. Essas Redes de Suporte envolvem todos os atores do tratamento, como familiares e outros dispositivos da rede de saúde primária. Dessa forma, fica destacado o importante papel que o CAPS AD possui ao ser o interlocutor e articulador entre os serviços de saúde.
Outro recurso importante na promoção a saúde são as equipes de Consultório Na Rua, que vêm embasadas por meio da Política Nacional de Atenção Básica. Essa equipe de atenção básica tem como função o atendimento e acolhimento de indivíduos usuários de múltiplas drogas em situação de rua. Tudo é feito inloco, forma que permite o conhecimento da realidade vivida por esses usuários e facilita seu acesso a saúde. O Consultório na Rua é formado por profissionais de saúde e tem como principal responsabilidade articular com outros serviços de saúde e prestar atenção integral a saúde das pessoas em cena de uso e que estão em uso abusivo de algumas substâncias psicoativas (SOUZA; VILLAR, 2017). As ações promovidas pelas equipes promovem a longitudinalidade, integralidade do cuidado, promoção a saúde e prevenção aos agravos que essa população está exposta.
Outro desafio relacionado à promoção e à proteção aos usuários de drogas dentro do SUS é o investimento necessário em políticas públicas de saúde voltadas para garantia dos direitos desses indivíduos. Percebem-se alguns avanços na rede de cuidado, porém ainda é nítido uma discrepância entre o que está preconizado e a prática, principalmente devido o incentivo às Comunidades Terapêuticas e a falta de estímulos a políticas da atenção primária.
Teleconsultor conteudista: Priscila Mendes Ferri / FMUFMG
A situação que temos enfrentado com a Pandemia do COVID-19 tem gerado muitas dúvidas na população e entre os profissionais de saúde. Uma dessas dúvidas é o que fazer quando temos casos confirmados ou suspeitos em nossa casa?
Sobre essa situação, são importantes algumas condutas gerais e diárias que podem garantir a segurança dos cuidadores e familiares ou residentes comuns ao caso suspeito. O paciente suspeito ou confirmado deve ter um ambiente destinado a ele no domicílio, sendo um quarto ou cômodo. Se isso não for possível, estabelece-se uma área de segurança. O ambiente deve ser limpo pelo menos uma vez ao dia com desinfetantes comuns ou solução de água sanitária, assim como todas as superfícies em que o paciente tem contato (exemplo, banheiro, a cada uso se não for exclusivo para o paciente).
É importante ainda limitar a circulação do doente no ambiente, mantendo este bem arejado, assim como restringir visitas. Separar utensílios de uso diário como copo, talheres, prato, escova de dentes para uso exclusivo do doente.
Os cuidadores diretos do paciente devem usar máscara cirúrgica (assim como o paciente) e ter cuidado redobrado com a higienização das mãos. Lavar com água e sabão sempre que possível, utilizar o álcool gel quando não for possível lavar as mãos. É importante também orientar a todos no domicílio a manterem a “higiene respiratória”, ou seja, cobrir a boca ao espirrar ou tossir, preferir utilizar lenço de papel quando necessário e descartar estes sempre após o uso em lixo específico. Mas... e se o paciente for uma criança pequena? Ou um paciente dependente para atividades diárias? A recomendação, nesse caso, é restringir o número de cuidadores (um, se possível) e orientar ao mesmo para redobrar os cuidados de higiene pessoais e o uso de máscara cirúrgica em todo contato com o paciente e suas secreções.
Esses cuidados devem ser contínuos até 14 dias após o contato com o paciente, não se esquecendo de olhar também pela saúde mental de toda a família!
Teleconsultor conteudista: ThaIIison Carlos Campos Santos / Aluno de graduação EEUFMG
Situações suspeitas
1: Febre E peIo menos um sinaI ou sintoma respiratório (tosse, dificuIdade para respirar, batimento das asas nasais, entre outros) E histórico de viagem para área com transmissão IocaI, de acordo com a OMS, nos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas; OU Situação
2: Febre E peIo menos um sinaI ou sintoma respiratório (tosse, dificuIdade para respirar, batimento das asas nasais, entre outros) E histórico de contato próximo de caso suspeito para o coronavírus (2019- nCoV), nos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas; OU Situação
3: Febre OU peIo menos um sinaI ou sintoma respiratório (tosse, dificuIdade para respirar, batimento das asas nasais entre outros) E contato próximo de caso confirmado de coronavírus (2019- nCoV) em Iaboratório, nos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas.
Entende-se como contato próximo uma pessoa envoIvida em quaIquer uma das seguintes situações:
1. Estar a dois metros de um paciente com suspeita de caso por 2019- nCoV, dentro da mesma saIa ou área de atendimento (ou aeronaves ou outros meios de transporte), por um período proIongado, sem uso de equipamento de proteção individuaI.
2. Cuidar, morar, visitar ou compartiIhar uma área ou saIa de espera de assistência médica, ou, ainda, nos casos de contato direto com fIuidos corporais, enquanto não estiver em uso do EPI recomendado.
Pacientes com suspeita de Covid-19 podem ser atendidos nas unidades da Atenção Primária à Saúde e peIa equipe de Estratégia de Saúde da FamíIia. São estes pontos cruciais nas redes de atenção à saúde, na medida em que se coIocam como os serviços de saúde do SUS mais próximos ao paciente. Dessa forma, deverão contribuir para o acompanhamento e monitoramento dos doentes. Destaca-se, porém, que neste momento de pandemia, o Ministério da Saúde recomenda que pacientes com sintomas Ieves permaneçam em isoIamento, utiIizando os canais de comunicação IocaI para acionar testagem e monitoramento.
CUIDADOS DOMÉSTICOS DO PACIENTE EM ISOLAMENTO
Sempre reportar à equipe de saúde que acompanha o caso o surgimento de aIgum novo sintoma ou piora dos sintomas já presentes. Manter paciente em quarto isoIado e bem ventiIado até o fim do período sintomático. Destacam-se os seguintes fatores do cuidado do paciente em isoIamento: a higiene respiratória e os hábitos saudáveis de aIimentação. Orientar que outros moradores da residência evitem contato com o doente, sobretudo se pertencerem aos grupos de risco.
CUIDADOS DOMÉSTICOS DO PACIENTE EM ISOLAMENTO DOMICILIAR POR 14 DIAS DESDE A DATA DE INÍCIO DOS SINTOMAS DE SINDROME GRIPAL
Sempre reportar à equipe de saúde que acompanha o caso o surgimento de aIgum novo sintoma ou piora dos sintomas já presentes
Isolamento do paciente: • Permanecer em quarto isoIado e bem ventiIado; • Caso não seja possíveI isoIar o paciente em um quarto único, manter peIo menos 1 metro de distância do paciente. Dormir em cama separada (exceção: mães que estão amamentando devem continuar amamentando com o uso de máscara e medidas de higiene, como a Iavagem constante de mãos); • Limitar a movimentação do paciente peIa casa. Locais da casa com compartiIhamento (como cozinha, banheiro etc.) devem estar bem ventiIados; • UtiIização de máscara cirúrgica todo o tempo. Caso o paciente não toIere ficar por muito tempo, reaIizar medidas de higiene respiratória com mais frequência; trocar máscara cirúrgica sempre que esta estiver úmida ou danificada; • Em idas ao banheiro ou outro ambiente obrigatório, o doente deve usar obrigatoriamente máscara; • ReaIizar higiene frequente das mãos, com água e sabão ou áIcooI em geI, especiaImente antes de comer ou cozinhar e após ir ao banheiro; • Sem visitas ao doente; • O paciente só poderá sair de casa em casos de emergência. Caso necessário, sair com máscara e evitar muItidões, preferindo transportes individuais ou a pé, sempre que possíveI.
Precauções do cuidador: • O cuidador deve utiIizar uma máscara (descartáveI) quando estiver perto do paciente. Caso a máscara fique úmida ou com secreções, deve ser trocada imediatamente. Nunca tocar ou mexer na máscara enquanto estiver perto do paciente. Após retirar a máscara, o cuidador deve Iavar as mãos; • Deve ser reaIizada higiene das mãos toda vez que eIas parecerem sujas, antes/depois do contato com o paciente, antes/ depois de ir ao banheiro, antes/ depois de cozinhar e comer ou toda vez que juIgar necessário. Pode ser utiIizado áIcooI em geI quando as mãos estiverem secas e água e sabão quando as mãos parecerem oIeosas ou sujas; • Toda vez que Iavar as mãos com água e sabão, dar preferência ao papeI-toaIha. Caso não seja possíveI, utiIizar toaIha de tecido e trocá -Ia toda vez que ficar úmida; • Caso aIguém do domicíIio apresentar sintomas de SG, iniciar com os mesmos cuidados de precaução para pacientes e soIicitar atendimento na sua UBS. ReaIizar atendimento domiciIiar dos contactantes sempre que possíveI.
Precauções gerais: • Toda vez que Iavar as mãos com água e sabão, dar preferência ao papeItoaIha. Caso não seja possíveI, utiIizar toaIha de tecido e trocá-Ia toda vez que ficar úmida; • Todos os moradores da casa devem cobrir a boca e o nariz quando forem tossir ou espirrar, seja com as mãos ou máscaras. Lavar as mãos e jogar as máscaras após o uso; • Evitar o contato com as secreções do paciente; quando for descartar o Iixo do paciente, utiIizar Iuvas descartáveis; • Limpar frequentemente (mais de uma vez por dia) as superfícies que são frequentemente tocadas com soIução contendo aIvejante (1 parte de aIvejante para 99 partes de água); faça o mesmo para banheiros e toaIetes; • Lave roupas pessoais, roupas de cama e roupas de banho do paciente com sabão comum e água entre 60-90ºC, deixe secar.
Teleconsultor conteudista: Profa. Eliane Palhares Guimarães / EEUFMG
A situação de isolamento social exigiu atitudes por parte de cada indivíduo nas relações sociais, familiares e de trabalho. Nas situações de ensino, não foi diferente. A adoção do ensino remoto emergencial (ERE) como opção temporária para manutenção das atividades fez com que o processo ensino aprendizagem fosse pensado e realizado de maneira que permitisse a aproximação professor/aluno, entendendo que o termo remoto se refere ao distanciamento no sentido geográfico, ou seja, da proximidade física. Além disto, trata-se de uma solução temporária, como sugere o termo emergencial, adotado em condições de necessidade excepcional, que possibilitará manter as atividades de ensino, considerando as condições mínimas para que sejam realizadas. Propõe a implementação de maneira rápida, confiável e segura, durante a emergência contextual. Como condição para seu desenvolvimento, o ensino remoto emergencial requer o uso de tecnologias de informação e comunicação na mediatização do processo, que possibilitam a realização de atividades de forma síncrona ou assíncrona.
É importante destacar que o ensino proposto para este período emergencial não pode ser caracterizado como educação a distância, por definição. A educação a distância envolve desde o planejamento até sua avaliação, ações para serem desenvolvidas prioritariamente por meio de recursos tecnológicos, resguardada uma concepção didática-pedagógica própria. Envolve a construção do material didático de forma que o aluno possa participar como co-responsável na construção do conhecimento, sendo orientado e acompanhando pelos professores e tutores no desenvolvimento das atividades propostas.
O desenho do projeto deve considerar desde as condições estruturantes da instituição, a organização e composição do conteúdo, bem como as alternativas estratégicas para seu desenvolvimento, com destaque para a apropriação dos recursos tecnológicos.
A educação a distância possui ainda como característica a possibilidade de desenvolvimento das atividades em tempos e espaços diferentes, apropriados ao planejamento de estudo do aluno. Para tanto é necessário que o aluno seja disciplinado, organize seu tempo e sinta-se motivado para desenvolvimento das atividades.
Como pode-se perceber, de maneira distinta das experiências de ensino a distância, o ensino remoto emergencial caracteriza-se como uma estratégia temporária, para a qual os professores precisaram se adaptar em um curto período de tempo. Foi necessário participar de ações formativas para a prática pedagógica, como forma de preparação e instrumentalização para esta nova forma de ensinar. A sala de aula deixa de existir no seu conceito de limite espacial físico e transporta-se para um ambiente virtual, onde as relações interpessoais são mediadas pela tecnologia. As aulas são realizadas preferencialmente de forma síncrona, ou seja, em tempo real com interação a distância e, as atividades, geralmente assíncronas, para as quais os estudantes são orientados pelos professores e tutores.
Independente da modalidade, as atividades são realizadas no ambiente virtual de aprendizagem (AVA), de escolha da instituição ou do professor.
Para “atrair” a atenção e estimular a participação do aluno, as disciplinas devem ser construídas de forma a contemplar uma variedade de estratégias de ensino, que incluem as aulas gravadas pelo professor ou mesmo realizadas em tempo real, na sua forma mais tradicional, mas ser criativo na proposição das atividades promovendo a interação com os alunos e orientando quanto às atividades que devem ser realizadas ao longo do período de dispersão, no qual o aluno executará as atividades sem o acompanhamento direto do professor.
É importante destacar, que os recursos tecnológicos permitem a realização de atividades individuais, a exemplo de tarefas postadas no ambiente virtual de aprendizagem, bem como de atividades construídas coletivamente, como é o caso do WIKI – ferramenta que permite a construção coletiva de um texto.
Portanto, como pode-se perceber, o conhecimento e a criatividade do professor aliadas ao potencial das ferramentas tecnológicas, permitem a utilização de ambientes de aprendizagem e a construção de conteúdos de forma diversificada e mais atrativa. Esta conjunção vem favorecer a construção de novos rumos para a educação, perenizando estas experiências na adoção do ensino híbrido e, num curto espaço de tempo, quiçá da educação a distância.
Para Patricia Alejandra Behar, professora da Faculdade de Educação/UFRGS, o Ensino Remoto Emergencial e a Educação a Distância não podem ser compreendidos como sinônimos. “O termo remoto significa distante no espaço e se refere a um distanciamento geográfico. O ensino é considerado remoto porque os professores e alunos estão impedidos por decreto de frequentarem instituições educacionais para evitar a disseminação do vírus. É emergencial porque do dia para noite o planejamento pedagógico para o ano letivo de 2020 teve que ser engavetado”.
Ainda de acordo com a professora, foi preciso pensar em atividades pedagógicas mediadas pelo uso da internet, pontuais e aplicadas em função das restrições impostas pela covid-19 para minimizar os impactos na aprendizagem advindos do ensino presencial. “O currículo da maior parte das instituições educacionais não foi criado para ser aplicado remotamente. Por isso, o professor de uma hora para outra teve que trocar o “botão” para mudar de sintonia e começar a ensinar e aprender de outras formas."
Teleconsultor conteudista: Profa. Dra. Janaína Soares / EEUFMG
Após a descoberta do novo agente coronavírus SARS-CoV-2, causador da COVID-19, em Wuhan, na China em 2019, uma série de casos dessa doença foi registrado no mundo todo, desencadeando no ano de 2020 a pandemia da COVID-19. Os efeitos da pandemia na população de forma geral têm sido expressivos (OPAS, 2020; BRASIL 2020).
Para lidar com a pandemia, várias medidas de proteção foram incentivadas e empregadas, como o distanciamento social, uso de máscaras, lavagem de mãos e uso de álcool gel com maior frequência e, dentre as medidas de cunho coletivo, a proibição das aulas presenciais para adoção do ensino remoto emergencial nas escolas e universidades durante esse período de pandemia.
Diante de um período de tantas mudanças e incertezas, várias questões têm impactado a saúde mental da comunidade acadêmica. Nos professores e profissionais técnicos administrativos, é possível observar o aumento do estresse e da ansiedade frente a adaptação do trabalho presencial para o remoto, incertezas com relação a construção desse novo formato de trabalho, exaustão física e mental, devido ao aumento dos afazeres domésticos junto ao trabalho como, o cuidado de familiares doentes, monitoramento de aulas remotas dos filhos, tarefas domésticas; desenvolvimento das aulas no formato remoto e as dificuldades para gravação de videoaulas, preparo e edição; aumento de reuniões relacionadas a questões de ensino e administrativas; organização de aulas síncronas e assíncronas nas plataformas; pressão mental para responder demandas dos alunos, professores e às atividades administrativas em variados canais de comunicação, maior cobrança do retorno instantâneo pelas plataformas de comunicação, dentre outras questões.
Com relação aos acadêmicos, os efeitos também são diversos, como o aumento da ansiedade, estresse, oscilações de humor, cansaço físico e mental, além do agravamento de transtornos mentais. Esses efeitos estão relacionados a falta de contato social entre seus pares (meio acadêmico como um todo), insegurança na realização das atividades remotas, sobrecarga de atividades remotas, oscilação do sinal de internet, falta de local adequado para estudo em suas residências, mistura do trabalho doméstico com as atividades acadêmicas e dificuldade de organizar o tempo, maior demanda familiar, desafio em se adaptar à nova forma de se relacionar, trabalhar e estudar. Ou seja, reinventando uma nova forma de viver nesses novos tempos.
De forma geral, é visível que a sobrecarga de trabalho aumentou em todo contexto acadêmico, visto que com o distanciamento social, houve um encontro de todas as ações da vida cotidiana no ambiente domiciliar, que por sua vez, ora era o local de descanso e de dedicação às necessidades pessoais e familiares, passou a ser o local, minimamente, também para trabalho e estudo de todos os membros da casa, sem espaço adequado para todos, gerando muito descontentamento, seja pela falta de espaço, de individualidade, de excesso de atividades, excesso de tela ou falta de para onde ir, dos encontros externos, sendo que, quando todas essas relações se misturaram ficou mais difícil viver e conviver bem.
Nessa perspectiva é evidente reconhecer a necessidade do cuidado em saúde mental na sociedade geral, assim como na população acadêmica, visto que todos incluídos nesta comunidade estão passando por períodos de mudanças em suas vidas, os quais estão sujeitos a desencadear estresse, ansiedade, depressão, dentre outros transtornos que, quando não cuidados precocemente, podem se tornar graves e persistentes, aumentando o sofrimento psíquico.
Dessa forma, é preciso que as pessoas compreendam a necessidade de praticar o autocuidado em saúde mental, que se possibilitem a buscar ajuda, que pratiquem o reconhecimento de seus limites para que assim possam encontrar alternativas de cuidados, como espaços de escuta, acompanhamento psicológico, priorizar momentos de sono e descanso, inclusão de atividades de lazer na sua rotina, considerando que da mesma forma que encontramos novas formas de trabalhar, estudar e estar em casa é possível criar novas formas de cuidarmos de nosso bem-estar físico e mental.
Teleconsultor conteudista: Profa. Dra. Salete Maria de Fátima Silqueira/ EEUFMG
Nos últimos anos, tem aumentado consideravelmente o número de pessoas com doenças crônicas no Brasil. Com a pandemia do Covid-19 estes números se tornaram bastante expressivos e mais visíveis. Reforçar medidas de isolamento e monitorar usuários e grupos sociais com maior risco e vulnerabilidade face à Covid-19, tornou-se uma medida urgente, e tem exigido dos profissionais a busca de estratégias para atender estes pacientes e ao mesmo tempo, garantir a adesão dos mesmos. Desta forma, tornou-se premente a reorganização de agendas e os modos de realização das atividades por parte dos profissionais para evitar aglomeração e contágio nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Uma das estratégias adotadas inicialmente é designar profissionais específicos para atendimento dos sintomas respiratórios recentes. No monitoramento longitudinal, manter a equipe atenta à evolução do paciente, em virtude da possibilidade de baixa saturação de O2 (sem sintomas), e de agravamento rápido da condição clínica1. Outras estratégias, é fazer o monitoramento por meio de ações de cuidado à distância – via telefone e de Teleatendimentos, plataformas de internet e, quando oportuno, no território, para diminuir a ida dos usuários às UBS, exceto nas situações que requeiram atenção no próprio serviço1,2. E também, a orientação aos pacientes por toda equipe de saúde incluindo os acadêmicos de Enfermagem que estão inseridos nos internatos da EEUFMG, no sentido de conscientizar este público quanto a não necessidade de ir a UBS para situações mais simples como renovação de receitas, aferição da pressão ou glicemia para a população que está controlada. Uma das estratégias que tem sido adotadas pelos médicos que trabalham nas UBS é prorrogar a validade das receitas e distribuir a medicação necessária para este período prolongado e também orientar que devem continuar fazendo o controle em casa, já que estão bem aderidos ao tratamento. Manter atenção aos usuários com maiores necessidades de cuidados contínuos, independentemente da Covid-19, bem como ações de imunização continuam ocorrendo, mas sempre incentivando e apoiando o isolamento social que comprovadamente tem sido a principal maneira de reduzir o contágio. Identificar casos suspeitos e contatos domiciliares e, se possível, contatos comunitários nos últimos 14 dias, para recomendar isolamento domiciliar pelo mesmo período. Estas medidas fazem parte da rotina diária destes profissionais para redução de contágio nesta população mais vulnerável1.
Teleconsultor conteudista: Enfermeira Miriam Maria G. Chaves/ SUS-BH
Os povos originários do Brasil somam um quantitativo de 0,4% do total da população do país. Os indígenas estão distribuídos em todos os estados, em 505 terras demarcadas, ocupando 12% do território nacional. Estes povos acumulam expressivas diversidades culturais, são 305 grupos étnicos que se comunicam através de 274 idiomas e se aproximam afetivamente pelos laços de suas tradições, religiosidades e costumes.
A grave crise de epidemiológica de importância internacional provocada pela pandemia de COVID-19, tem impactado e gerado um grande desafio para a saúde entre as populações dos povos originários do Brasil. Neste cenário é urgente a implementação de políticas e ações específicas para proteção e recuperação da saúde dos indígenas, principalmente no que tange as ações da Atenção Primária a Saúde (APS). O direito a saúde dos indígenas é assegurado pelo artigo 196 da Constituição Federal de 1988, no qual está disposto: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. ”
Para assegurar a saúde indígena em tempos de pandemia e reduzir os danos dos graves efeitos deletérios do SARS-COV-2 nas aldeias é estratégico fortalecer as ações de saúde pautadas no princípio de Equidade, que norteia políticas de saúde, reconhecendo necessidades dos povos originários do Brasil para reduzir o impacto dos determinantes sociais da saúde aos quais estão submetidos. Para isto, é preciso intensa mobilização popular, através de manifestações dos conselhos de saúde visando à efetivação das ações de saúde direcionadas aos indígenas.
Faz-se necessário romper as diversas barreiras impostas aos indígenas, fortalecer a APS dentro das comunidades para reduzir as dificuldades sanitárias destas populações, disponibilizar insumos, equipamentos de proteção individual, capacitar os profissionais que atuam nas aldeias, testagens em massa, distribuição de alimentação de qualidade e em quantidades adequadas, instalação de barreiras sanitárias no entorno das aldeias.
Paralelo as ações de enfrentamento a pandemia é preciso não contingenciar os demais atendimentos e viabilizar o acesso a assistência em todas as linhas de cuidados principalmente em relação a saúde das mulheres e atenção ao pré-natal, a puericultura e as doenças crônicas, facilitar o acesso a atenção secundária e terciaria. O Estado precisa instrumentalizar os profissionais de saúde e lideranças das tribos para combater as fake news, e a vacinação em massa com prioridade para todas e todos os indígenas.
Teleconsultor conteudista: Enfermeira Raquel Souza Azevedo
O rápido envelhecimento da população brasileira traz grandes desafios para o sistema de saúde, pelo grande número de doenças crônicas e incapacidades funcionais. Com isto, os enfermeiros, precisam estar preparados para lidar com as demandas dessa população. De acordo com Moraes e Azevedo (2016), o conceito de saúde do idoso tem em sua base a funcionalidade global, compreendendo que a capacidade funcional do indivíduo se relaciona à sua autonomia e/ou independência.
Para o funcionamento harmonioso da funcionalidade, é necessária uma boa cognição, humor, comportamento, mobilidade e comunicação.
As “Grandes Síndromes Geriátricas” (incapacidade cognitiva, instabilidade postural, imobilidade, incontinência esfincteriana e incapacidade comunicativa) são as principais causas da perda da autonomia e/ou independência, que podem levar à dependência funcional ou incapacidade no idoso.
Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, envelhecer sem nenhuma doença crônica é mais uma exceção do que a regra e isto leva ao declínio funcional, comprometendo a autonomia e/ou independência do indivíduo. A capacidade funcional é o principal marcador de vulnerabilidade do idoso, e é justamente aí que o enfermeiro deve estar atento, devendo este ser o ponto de partida da consulta de enfermagem ao paciente com demência.
A incapacidade cognitiva, é caracterizada com declínio cognitivo associado a declínio funcional, e cuja as principais causas são: a demência, a depressão, o delirium (confusão mental aguda) e as doenças mentais. Todas elas não são consideradas “normais da idade” e merecem uma investigação minuciosa. Dentre as principais causas de demências estão: corpos de Lewy, frontotemporal, associada à doença de Parkinson, e o Alzheimer que é a principal causa de demência, responsável por cerca de 60% dos casos.
A suspeita de demência deve ocorrer quando houver os seguintes sintomas: esquecimento percebido pelos familiares ou pelos amigos mais próximos; piora progressiva do esquecimento; repercussão do esquecimento nas atividades de vida diária.
Os principais fatores de risco para demência, são: idade: aumenta com a idade, atingindo até 30% da população com 80 anos ou mais; hereditariedade: o registro desse distúrbio em parentes de 1º grau (pais e irmãos); baixa escolaridade ou atividade intelectual; sexo feminino; AVC, diabetes mellitus, hipertensão arterial, dislipidemia, tabagismo e inatividade física; polifarmácia, principalmente com uso de benzodiazepínicos de longa duração e trauma cranioencefálico.
Para o tratamento das manifestações clínicas de todas as demências além das medicações, é fundamental a abordagem de toda equipe multiprofissional e principalmente o enfermeiro nos seguintes aspectos: adaptação ambiental; cuidados com ruídos e iluminação; atenção à comunicação com o idoso com demência; estimulação da memória, cuidados com a alimentação e atenção aos sintomas comportamentais.
O enfermeiro deve fazer uma avaliação do idoso portador de demência, a fim de poder sistematizar um plano assistencial que será de grande importância em toda a rede de cuidados, visando garantir uma melhor qualidade de vida tanto para o paciente quanto para o seu cuidador.
Teleconsultor conteudista: Enfermeira Drª. Delma A. S. Simão
A atenção à saúde da criança vem passando por diversas transformações nos últimos anos em função da mudança de perfil epidemiológico dessa população, dos avanços científicos, da incorporação de tecnologias e do próprio uso de tecnologias por crianças e famílias, mudança nos modelos assistenciais, com apelo para a preocupação com a qualidade de vida, autonomia da criança e a defesa dos direitos humanos.
O reconhecimento científico cada vez mais potente e consistente de que as experiências vividas na infância têm repercussão por toda a vida faz, dessa etapa do ciclo vital, uma prioridade para os serviços de atenção à saúde. Ademais, a criança se constitui no grupo mais vulnerável da humanidade e negligências nessa etapa da vida podem ter importantes repercussões tanto para a pessoa, família, como para toda sociedade seja no presente e/ou no futuro. A perspectiva de atenção integral é exigente e pressupõe vínculos muito bem estabelecidos entre a criança, o cuidador/família e o profissional responsável, num processo de co-responsabilização durante a abordagem da criança.
Na Atenção Primária em Saúde (APS), os profissionais de saúde têm se deparado, na atualidade, com elenco de perfis de crianças que exigem atenção diversificada e singular: crianças cujas mães ou cuidadoras se consideram despreparadas no adoecer do filho e que diante disso, buscam atenção nos serviços de atenção primária, uma que vez que o aconselhamento familiar tem sido cada vez mais valorizado. Crianças em vulnerabilidade social; vítimas ou sob risco de violência; explicitamente indesejadas; prematuras; em condições agudas com sinais de perigo evidentes (tais como choro fraco ou mais intenso que o reconhecido pelos pais ou criança inconsolável, prostrada, criança que não brinca, não interage pouco comunicativa, que não come/não mama, não ingere líquidos, com eliminações intestinais e urinárias ausentes, pálidas, com febre persistente, crises convulsivas etc). Tem-se ainda o aumento da prevalência de crianças com condições crônicas, como síndromes genéticas ou deficiências que necessitam de intervenções em tempo oportuno seja para sua situação de saúde ou para condições agudas subjacentes; crianças com transtornos do crescimento e desenvolvimento, sobretudo com aumento da prevalência dos casos de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA); crianças com saúde mental comprometida, entre outras.
Diante dessa variedade desafiadora de perfis, cabe aos profissionais da APS acolher as crianças e suas famílias que necessitam de um atendimento de forma educada, humanizada, ética e resolutiva. Estudos apontam que famílias reconhecem e se sentem acolhidas pelos serviços, porém isso não é tão frequente como deveria. Famílias reconhecem a importância do primeiro contato, da atitude atenciosa, respeitosa seja pela recepção dos serviços de saúde ou pelos profissionais da equipe interdisciplinar. Inclusive, percebem que Volume 16, N° 16 para serem acolhidas, este atendimento não precisa resultar em consultas médicas, mas em um diálogo ou escuta, pois na concepção dos cuidadores isto seria o suficiente, muitas vezes, para resolver o problema que os afligem em relação à suas crianças. As diretrizes para implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), elenca entre seus princípios para a atenção à criança: 1. A Prioridade absoluta da criança, o qual trata-se do princípio constitucional que compreende a primazia da criança de receber proteção e cuidado em quaisquer circunstâncias, além de ter precedência de atendimento nos serviços de saúde. 2. O acesso universal à saúde por meio de acolhimento com a escuta qualificada dos problemas e a avaliação com classificação de risco e vulnerabilidades sociais, propondo o cuidado singularizado e o encaminhamento responsável, quando necessário, para a rede de atenção. 3. Ambiente facilitador à vida – Princípio que se refere ao estabelecimento e à qualidade do vínculo entre criança e sua mãe/família/cuidadores e também destes com os profissionais que atuam em diferentes espaços que a criança percorre em seus territórios vivenciais para a conquista do desenvolvimento integra. Esse ambiente deve ser permeado pelo cuidado responsivo e essencial. Desta forma, salienta-se a importância de um ambiente acolhedor que tenha um mínimo ludicidade presente, por meio de livros infantis ou brinquedos laváveis com peças de tamanhos adequados às diferentes faixas etárias.
O acolhimento com escuta qualificada, a classificação de risco, a avaliação das necessidades de saúde e a análise de riscos e vulnerabilidades são compromissos da APS e se configura no primeiro atendimento que disparará os demais processos de trabalho da equipe. A função central das equipes de APS é acolher, escutar e oferecer resposta adequada, capaz de resolver a maioria dos problemas de saúde e/ou de reduzir danos e sofrimentos da população, ainda que a resposta seja ofertada em outros pontos de atenção da rede. Os encaminhamentos para especialistas, por exemplo, ocorrem após a necessidade identificada, por meio das investigações do problema pelos profissionais e apenas se esgotados os recursos disponíveis deste nível de atenção.
Por fim, um acolhimento eficiente na APS, implica em respeito aos princípios fundamentais da PNAISC, mas também na implementação do cuidado responsivo, respeitoso, ético, capaz de considerar a família como constante na vida criança. O profissional deve reconhecer a família, valorizando sua individualidade e maneira de cuidar, sendo esta estratégia de acolhimento capaz de facilitar a colaboração entre pais e profissionais nos cuidados de saúde da criança.
Teleconsultor conteudista: Enfermeira Thiara Joanna Pecanha Da Cruz Tavares
A saúde da pessoa idosa merece um olhar atento de um profissional de saúde, para isso é necessário um conhecimento específico sobre as principais características do processo do envelhecimento e as fragilidades do idoso.
Ser saudável na velhice significa ter a capacidade de gerir a própria vida ou cuidar de si mesmo. Isso significa ter AUTONOMIA, que é a capacidade da pessoa em DECIDIR sobre as ações, escolher o que deseja fazer, e ter INDEPENDÊNCIA, que é a capacidade para EXECUTAR as ações com seus próprios meios. (Moraes e Azevedo, 2016)
Assim o idoso com saúde é aquele que tem condições de realizar suas tarefas domésticas, controlar suas finanças, autocuidado e dessa forma ter sua funcionalidade preservada. Quando ocorre perda ou dificuldade em realizar estas atividades, chamadas de Atividades de Vida Diária (AVDs) é que suspeitamos de declínio funcional. (Oliveira, 2010)
A maioria dos idosos, mesmo quando possuem doenças, não apresentam necessariamente limitações em suas AVDs. Por exemplo: Há idosos portadores de hipertensão, que tomam remédios, e mantem suas AVDs. Estes, em grande parte, são considerados idosos robustos, sem necessidade de uma avaliação especializada. Mas se junto a estas características, o idoso começar a apresentar comprometimento em suas AVDS, esquecimento, queda frequentes, incontinência esfincteriana, que são alterações que comprometem autonomia e independência do idoso, neste caso é importante uma avaliação geronto-geriátrica.
Esse declínio funcional não deve ser considerado normal da idade. Tal fato deve ser considerado como ponto de partida para avaliação de saúde do idoso. Nesse sentido, o enfermeiro com o olhar gerontológico é capaz de identificar o idoso frágil, que demanda de uma equipe especializada.
Este enfermeiro, durante a consulta de enfermagem, pode usar ferramentas capazes de identificar as grandes síndromes geriátricas, que são: Incapacidade Cognitiva, Instabilidade Postural, Imobilidade, Incontinência Esfincteriana, Incapacidade Comunicativa, Iatrogenia e Insuficiência Familiar.
Até o momento há diversos instrumentos desenvolvidos para a avaliação do idoso, como o IVCF-20 (Carmo, 2014), PRISMA-7 (Raîche, 2008), Sherbrooke Postal Questionnaire (Hébert, 1998), Tilburg Frailty Indicator (Gobbens, 2010; Santiago, 2012), Groningen Frailty Indicator (Steverink, 2001).
Na prática essa avaliação é muito demorada, pois requer tempo e domínio para avaliar cada sistema. Então é importante que a equipe escolha um instrumento de acordo com o perfil do serviço (quantidade de idosos, número de profissionais, tempo de consulta) e também capaz de identificar as fragilidades do idoso, além de buscar a história pregressa e avaliação da dinâmica familiar desse idoso.
Assim com estas informações o enfermeiro gerontólogo pode contribuir na gestão do plano terapêutico par o idoso. Diante da avaliação multidimensional do idoso, pode-se orientar as condutas e orientações do enfermeiro, e direcionar a toda a equipe (médica e multidisciplinar). (Eliopoulos, 2011).
Teleconsultor conteudista: Enfermeira Miriam Maria G. Chaves
A pandemia da COVID-19, desencadeou expressivos efeitos na população em geral (OPAS, 2020; BRASIL 2020). E sendo a Atenção Primária à Saúde (APS), a porta de entrada prioritária para acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS), o contexto longo da pandemia tem potencializado um dos grandes desafios para as Unidades Básicas de Saúde (UBS), em todo o país que é a organização da porta de entrada para acolhimento da demanda espontânea.
Antes de pensar estratégias locais para cada UBS, organizar seu processo de trabalho local, faz-se necessárias algumas reflexões acerca do contexto social, político e econômico do país. Observa-se em todos os níveis governa um despreparo dos gestores para a tomada de decisões pautadas na garantia de direitos de acesso a saúde, assegurados pela Constituição Federal. Os cargos de gestão outrora ocupados por técnicos passaram a ser preenchidos por aliados de um sistema que visa o desmonte das políticas públicas e são sustentados por um discurso vazio carregado de frases de efeito que contradizem toda a legislação que regulamenta as ações de saúde e o funcionamento dos serviços da rede atenção à saúde do SUS, que deveriam ser organizados, regionalizados e hierarquizados em todos os níveis de complexidade da assistência.
Além do contexto da gestão as UBS tornam-se novas portas para atendimentos de urgência, mas sem o mínimo recurso para a oferta de assistência segura para os usuários e trabalhadores. Estes atores estão sendo deslocados da função de ofertar cuidado longitudinal, nos ciclos de vida e de acordo com a realidade de cada território para o atendimento de urgências, que extrapolam das redes de urgências/emergências que não comportam a demanda da população. Esta “upalização” das UBS está asfixiando o trabalho de promoção a saúde e prevenção de agravos que era realizado pela APS.
Este contexto de deslocamento das principais funções da APS pode contribuir para reduzir a redução da expectativa e qualidade de vida da população brasileira, bem como causar a desmotivação e adoecimento dos trabalhadores da saúde, pela sobrecarga de trabalho e por terem que se adaptar sob a intensa pressão assistencial para dar conta do trabalho no território com a porta de entrada lotada de pacientes com queixas agudas. No entanto, é preciso compreender que grande parte da demanda espontânea com queixas agudas são portadores de doenças crônicas descompensadas, consequências do contexto pandêmico e da falta de espaço nas agendas da APS para realizar sua própria função. O que tem gerado uma bola de neve em movimento em toda à rede atenção a saúde do SUS, afetando todos os níveis de complexidade, mas fragilizando a APS.
Diante deste contexto está cada vez mais difícil, sem a mudança de postura dos governantes sobre a retomada do papel da APS a reorganização deste nível de atenção. No entanto, os serviços mesmo sufocados continuam ofertando assistência e como medidas de redução de danos em nível podemos pensar algumas estratégias para organizar o cuidado como por exemplo a realização do acolhimento em horário pré-determinado para avaliação de queixas clínicas agudas e organizar as agendas programadas de todos os ciclos de vida. Alguns munícipios estão trabalhando com escalas de equipes de referência para atender as queixas agudas e tentar realizar as ações da Estratégia Saúde da Família, o que seria uma boa alternativa, caso a APS contasse com um quadro de recursos humanos robusto, o que se sabe que não é a realidade da maioria dos municípios brasileiros.
Dessa forma percebe-se que a consolidação da APS como porta de entrada prioritária para o SUS, depende do frágil equilíbrio entre atendimento da demanda espontânea e programada. A atenção aos pacientes crônicos constituí um importante desafio aos profissionais da APS devido à dificuldade de tempo na agenda das equipes para efetivar a coordenação dos cuidados. Abrir, de fato, as portas das UBS conforme preconizado buscando equilíbrio entre o cuidado aos doentes e as ações preventivas e promocionais é condição para o fortalecimento do SUS. Diante disto, o acolhimento, o suporte de especialistas e o apoio matricial podem contribuir para a organização do processo de trabalho das equipes das UBS para atender às diversas necessidades de saúde da população e para ampliar a resolutividade. A conquista de apoio e legitimidade para a APS ainda é um desafio. Iniciativas para divulgar e promover a comunicação clara e assertiva entre a população e os trabalhadores, são essenciais e podem aumentar cooperação entre os profissionais da rede de serviços de saúde e usuários, fortalecendo o vínculo o que irá contribuir para construir uma sólida base de apoio ao sistema público de saúde.
Teleconsultor conteudista: Profª Drª. Solange C. Bicalho Godoy/ EEUFMG
A violência contra a mulher é um termo que engloba diversas formas de maus-tratos e agressões, perpetuadas sistematicamente no Brasil e no mundo por questões de gênero. A violência contra as mulheres é uma forma de violência de gênero, na qual os direitos humanos das mulheres e a integridade física, psicológica e moral são violados. Trata-se de um conceito para definir as diversas formas de violência vivenciadas pelas mulheres em função de seu gênero, desde o assédio moral até o homicídio. Essa violência está enraizada e é apoiada pelo patriarcado, e é encontrada tanto na vida pública quanto na privada, como em casa e nos espaços de trabalho. Muitas vezes é perpetrado por pessoas próximas às vítimas, como parentes, cônjuges, amigos e conhecidos. Apesar de assumir diferentes formas, essa violação dos direitos das mulheres é uma questão presente em muitas culturas, sociedades e religiões em todo o mundo. A violência sexual contra a mulher é um abuso dos direitos humanos e um ato de agressão, envolvendo qualquer tipo de relação sexual sem o consentimento da mulher, muitas vezes por meios coercitivos e violentos. Isso inclui estupro, assédio e outras formas de coerção sexual. A pesquisa do Ipea revelou que 70% da violência sexual é perpetrada por alguém que a vítima conhece, como um conhecido ou parceiro. Os atos podem variar de proibir uma mulher de usar contraceptivos ou forçá-la a usá-los contra sua vontade, para impedi-la de ter um aborto.
A orientação seria aconselhar que ligue para 180 para orientação e apoio gratuitos 24 horas por dia, 7 dias por semana, em casos de violência contra as mulheres. Este canal, criado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, já registrou um recorde de 105.671 denúncias em 2020 - ou seja, uma a cada cinco minutos. Neste espaço a mulher receberá informações sobre os recursos locais e as etapas necessárias para resolver o problema. O encaminhamento também pode ser feito para outras linhas telefônicas competentes, como Polícia Militar, Polícia Civil ou Secretaria de Direitos Humanos (disque 100).
Em relação à violência sexual contra meninas e adolescentes é multissetorial, com a saúde, justiça/polícia e bem-estar social/proteção infantis: escuta especializada, exame médico clínico, exame pericial, assistência socioassistenciais e assistência psicólgica(1,2). O fluxo de atendimento à vítima inclui acionar o Conselho Tutelar (averiguação domiciliar ou institucional e discussão com seu colegiado para tomada de decisões) e os cuidados clínicos, sócio assistencial e psicológicos imediatos e de longo prazo para a redução das consequências negativas para a saúde e a melhoraria do bem-estar (1,2).
Quanto ao fluxo de encaminhamento, para proteção da vítima, foi instituída a abordagem da Escuta Especializada da Lei 13.431/17 e Decreto 9.603/2018, cujo objetivo principal é a proteção íntegra da vítima e não o de coletar provas da violência sexual sofrida (entretanto, se durante o relato forem narrados indícios da materialidade e da autoria do crime., o relatório poderá ser usado como prova judicialmente) (2).
Os profissionais de saúde devem garantir o atendimento as vítimas em tempo hábil e de acordo com suas necessidades e desejos; priorizar as necessidades de saúde imediatas e suporte de primeira linha; tornar o ambiente e a maneira como os cuidados estão sendo prestados adequados à idade, bem como sensível às necessidades daqueles que enfrentam discriminação relacionada à orientação sexual; minimizar a necessidade das vítimas se deslocarem a vários pontos de atendimento dentro da unidade de saúde; capacitar cuidadores na compreensão de possíveis sintomas e comportamentos que a criança ou adolescente pode apresentar nos próximos dias ou meses e quando buscar mais ajuda(1). Após o abuso sexual em meninas, as providencias clínica e periciais a serem tomadas incluem(2): - Em até 72 horas – a) exame clínico realizado no hospital incluindo contracepção de emergência (para evitar uma possível gravidez da vítima) e profilaxia de infecções sexualmente transmissíveis (IST); b) exames periciais (obrigatoriamente por um Médico-Legista) que podem ser feitos no Instituto Médico Legal (IML) no hospital onde a vítima se encontra; - Após 72 horas – a) exame clínico na Unidade de Saúde incluindo teste de gravidez, diagnóstico e profilaxia e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis (IST); b) exames periciais no IML.
O atendimento socioassistencial faz parte da linha de cuidado da menina e adolescente vítima de abuso sexual no Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Duas unidades do SUAS são essenciais para a proteção de vítimas de violência: a) O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que atua na prevenção de riscos sociais e de violações de direitos por meio de identificação de sinais, realizando atividades de orientação e encaminhamento; b) O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), que atua diretamente no enfrentamento de violações de direitos, inclusive abuso sexual. Realiza o acompanhamento da criança/adolescente e de sua família, promovendo (2): Apoio, orientação e acompanhamento do caso concreto, articulando os serviços socioassistenciais com as diversas políticas públicas e com órgãos do sistema de garantia de direitos; Desenvolvimento do Plano de Acompanhamento Familiar; Acompanhamento da família por meio de atendimentos individuais, familiares ou em grupo; Orientação sociojurídica; Visitas domiciliares.
Na ausência de um responsável legal da menina que sofreu abuso sexual e for constatada a necessidade de afastamento do núcleo familiar, o conselho tutelar deve elaborar relatório descrevendo os motivos da necessidade de afastamento e as providências tomadas e comunicar imediatamente o fato ao Ministério Público. Nos casos em que não houver membro da família extensa com possibilidade de acolher de forma segura a criança ou adolescente, o Ministério Público solicita ao juízo da infância e juventude o encaminhamento da criança ou adolescente a serviço de acolhimento em família acolhedora ou acolhimento institucional. Nos casos de urgência de acolhimento imediato, o Conselho Tutelar, em caráter excepcional, pode solicitar o acolhimento da vítima, e comunicar ao Juiz da Vara de Infância e Juventude que, após ouvir o Ministério Público, manterá ou não o acolhimento (2).
Quando a criança ou adolescente vítima de abuso sexual tem responsável legal que a proteja, o Conselho Tutelar deve orientar o responsável legal não agressor a registrar um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia e regularizar a situação jurídica da vítima, por meio de um advogado na Defensoria Pública. São exemplos de medidas legais que podem ser adotadas: guarda unilateral; retirada do agressor da casa; restrição de visita ou visita vigiada; destituição do poder familiar, dentre outras (2).
Uma vez constatado que a menina ou o adolescente vítima de abuso sexual está em risco, a autoridade policial deve ser acionada que solicitar à autoridade judicial responsável, em qualquer momento dos procedimentos de investigação e responsabilização dos suspeitos, as medidas de proteção(2): Evitar o contato direto da criança ou do adolescente vítima ou testemunha de violência com o suposto autor da violência; Solicitar o afastamento cautelar do investigado da residência ou local de convivência, em se tratando de pessoa que tenha contato com a criança ou o adolescente; Requerer a prisão preventiva do investigado, quando houver suficientes indícios de ameaça à criança ou adolescente vítima ou testemunha de violência; Solicitar aos órgãos socioassistenciais a inclusão da vítima e de sua família nos atendimentos a que têm direito; Requerer a inclusão da criança ou do adolescente em programa de proteção a vítimas ou testemunhas ameaçadas; Representar ao Ministério Público para que proponha ação cautelar de antecipação de prova, resguardados os pressupostos legais e as garantias previstas no art. 5º Lei 13.431/17.
Teleconsultor conteudista: Profª Maria Odete Pereira
Em 2004, duas enfermeiras publicaram um artigo que abordava acerca da invisibilidade da saúde mental na Atenção Primária AP - (Oliveira, Ataide, Silva, 2004). Devido à baixa inclusão de usuários na agenda/rotina de cuidado do serviço de APS, em condição de adoecimento psíquico e/ou em uso abusivo de álcool e outras drogas, as enfermeiras realizaram busca ativa de pessoas, por meio de visita domiciliária e identificaram um número expressivo de pessoas que estavam adoecidas, na invisibilidade.
Vimos se passarem 19 anos e esta condição não se modificou, pois ainda é expressivo o número de pessoas vivendo no território, em adoecimento psíquico e/ou uso abusivo de álcool e outras drogas, na invisibilidade. Observamos isto nos municípios do interior de Minas Gerais, onde supervisionamos estudantes da graduação, em estágio na Atenção Primária. Muitos deles não possuem serviços especializado de saúde mental a saúde mental continua sendo “o gargalo” na Atenção Primária. A pessoa vira uma batata quente, que ninguém quer segurar, como ouvi o psiquiatra Gastão Wagner afirmar, há uns 15 anos atrás.
Raramente encontramos uma enfermeira ou enfermeiro da Atenção Primária, que afirme realizar ações de saúde mental no território e que acolha as pessoas em adoecimento psíquico nas unidades de saúde. Para usuários com este perfil, realizam visitas domiciliares, que se resume à aplicação de neuroléptico de ação prolongada.
Nos últimos anos desenvolvi pesquisas com alunas da pós-graduação de mestrado profissional em gestão dos serviços de saúde, em município de pequeno porte da região noroeste do estado de Minas Gerais, em que realizamos a capacitação de enfermeiros para a realização de rodas de terapia comunitária, para a promoção de saúde mental e de intervenções breves com usuários de álcool. Em ambos os estudos, os enfermeiros referiam-se despreparados para as abordagens terapêuticas grupais e não consideravam a possibilidade de continuarem a desenvolvê-las, porque estavam sobrecarregados com as atividades que já desenvolviam, no cotidiano de trabalho ou porque não tinham perfil para executá-las.
Por outro lado, é preciso considerar que a grande maioria dos enfermeiros e enfermeiras da APS não teve disciplinas da área de saúde mental na estrutura curricular da graduação em enfermagem, é mal remunerada e vivencia a sobrecarga de trabalho, no cotidiano laboral.
Como no dia 10 de outubro comemorou-se o dia mundial da saúde mental, com o mote proposto pela Organização Pan-americana de Saúde: “saúde mental é um direito humano universal”. Segundo a OPAS “O evento deste ano representa um compromisso global para aumentar a conscientização sobre a saúde mental e defendê-la como um direito humano universal. Todos devem ter o direito de viver uma vida com dignidade, equidade, igualdade e respeito. No entanto, ainda persistem na Região das Américas, o estigma, a discriminação e as violações aos direitos humanos. Em muitos países da Região, as pessoas com questões de saúde mental não têm acesso a serviços de qualidade, estão sujeitas a práticas coercitivas, tratamento desumano e, em alguns casos, abuso - mesmo em ambientes de saúde, onde deveriam estar protegidas”. Neste sentido, como agentes formadores, devemos formar enfermeiros que promovam a saúde mental de todos os usuários e usuárias do SUS, de forma digna, equânime e respeitosa, como direto universal.
Neste sentido, após a leitura dos parágrafos anteriores, façamos alguns questionamentos, que nos levem a refletir a formação que estamos entregando aos nossos estudantes de graduação. Estamos formando profissionais aptos a promoverem a saúde mental como um direito humano universal? Durante a graduação, nossas práticas se resumem às abordagens individuais ou estamos formando nossos estudantes também na perspectiva da abordagem coletiva, “na saúde coletiva” e para “a saúde coletiva”? Não esqueçamos que esta não é uma tarefa de todas as disciplinas da estrutura curricular.
Teleconsultor conteudista: Enf.º Fernando Ferreira Dias - Residente HC/UFMG
Entende-se como planejamento reprodutivo (PR) o cuidado prestado ao indivíduo, parceria sexual e núcleo familiar, no que tange a informações, orientações, métodos e procedimentos que possam viabilizar a autonomia e o direito das pessoas de decidirem sobre o exercício de sua sexualidade e reprodução de forma consciente e segura.
Abrangendo todos os indivíduos independente de sua posição social, sexo biológico, identidade de gênero, orientação sexual, faixa etária e quaisquer outras características individuais que evidentemente influenciam o viver (LÚCIO; SANTOS; NOBRE;. 2024), o PR deve ser realizado por todos os níveis de atenção da saúde. Todavia, por sua atuação visada à promoção da saúde e à prevenção de agravos, por ser a principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde e se propor a um vínculo com os pacientes no território, a atenção primária à saúde (APS) torna-se ambiente propício para este movimento.
A organização da APS por si só é complexa e a oferta do PR não seria diferente. Existem inúmeros desafios a serem superados, como os listados por De Paiva e colaboradores (2019), sendo: falta e dificuldade acesso aos insumos; desconhecimento e baixa adesão pela população; baixa orientação profissional sobre infertilidade, ciclo menstrual, infecções sexualmente transmissíveis, métodos para concepção e contracepção; falta de acompanhamento da adaptação ao método escolhido; além da urgente necessidade de atualização das competências dos profissionais com visão a cuidados baseados em evidências. Outrossim, urge a necessidade de superação de barreiras morais, religiosas e de gênero por parte dos profissionais na oferta e garantia de direitos reprodutivos.
Raramente encontram-se nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) a oferta de PR bem estabelecidos. De forma semelhante, a rotina laboral exaustiva e a valorização de outras atividades para alcance de bons indicadores propostos pelas esferas governamentais suprimem essa demanda nas unidades. Como resultado desta desassistência, no estudo de Souza e colaboradores (2024), que buscava compreender as representações sociais presentes nas falas de pacientes com gestações não planejadas, observou-se o desconhecimento em relação ao PR, métodos contraceptivos e como utilizá-los.
Como residente de Enfermagem Obstétrica, observei que mesmo quando há a oferta do PR, alguns métodos contraceptivos são mais ofertados em detrimento a outros.
Apesar dos contraceptivos possuírem diferentes taxas de eficácia a partir do seu uso perfeito e imperfeito, este não deveria ser o critério para escolha. A anamnese e exame físico devem preceder esta decisão, a fim de se ofertar aqueles que são mais viáveis para o contexto clínico e social investigado. Desta forma, associado à educação em saúde, o paciente é munido de informações direcionadas para as opções compatíveis com seus hábitos de vida diária.
Possuindo a educação em saúde como um dos pilares formativos e a gestão e organização como fundamentos da profissão de Enfermagem, cabe a estes profissionais a proposição e o domínio no processo gerencial e assistencial do PR. Propõe-se a elaboração de protocolos e fluxos de atendimento na unidade; realização de planos assistenciais singulares; monitoramento e continuidade do cuidado; identificação de fragilidades e forças no território e sistema de saúde; atualizar-se e propor ações de educação permanente com sua equipe, além da verificação de quais métodos estão disponíveis na unidade de saúde e conexão com a rede ampliada quando necessário. A criação e inclusão dos pacientes em grupos operativos também se apresenta como oportunidade de divulgação do PR, manutenção do vínculo e troca de experiências entre os pacientes.
Teleconsultor conteudista: Profª. Drª. Torcata Amorim/ EEUFMG
O termo iatrogenia (iatro = curador, genia = causado por) é definido como “danos causados por profissionais de saúde”. É a consequência danosa de alguma intervenção, em procedimento proposital, que deveria ter como objetivo a melhoria do paciente.
Para conhecer as iatrogenias que ocorrem no parto e nascimento, devemos compreender inicialmente a evolução, fisiologia e humanização desse evento ao longo dos tempos. Até o século XIX, o parto acontecia no domicílio com o apoio de outras mulheres. Com a mudança e evolução da assistência à saúde, o parto passou a acontecer em hospitais e tornou-se uma ocorrência médica. Nestas instituições, as parturientes não eram ouvidas, nem consideradas as suas preferências e sentimentos, tornando assim a assistência ao parto um evento tecnocrático.
Na década de 1990, diante do descontentamento com a qualidade da assistência à mulher, visto que não houve a redução esperada das taxas de morbimortalidade materna e neonatal, e o aumento das taxas de cirurgias cesarianas, o governo federal buscou estabelecer o conceito de humanização como princípio de dois programas de saúde no setor público brasileiro, o Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN) e o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), que culminaram, de forma mais ampla, na Política Nacional de Humanização (PNH) em 2000.¹ Posteriormente, outras medidas como o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, a criação dos Centros de Parto normal e a Rede Cegonha, dentre outros, foram implementados.
Destacam-se nestas políticas, os investimentos na formação e inserção de enfermeiras obstétricas na assistência, visto que as parturientes necessitam de menos analgésicos, há menos intervenções e os resultados finais são melhores, quando acompanhadas por profissionais não médicos, que aqueles produzidos pela assistência médica convencional2. Acrescenta-se aqui a capacidade das enfermeiras obstetras de influenciar as boas práticas da assistência.
Dentre as intervenções sem justificativa clínica ou evidências científicas que podem levar a uma iatrogenia durante o parto e nascimento, podemos citar a negligência ou indiferença; o tratamento ríspido; a falta de privacidade; os exames vaginais repetitivos que são constrangedores e dolorosos, invadem a intimidade da mulher e aumentam o risco de infecção; a episiotomia sem indicação, que além de incômoda, dificulta a recuperação, aumenta as chances de infecção e deixa cicatrizes; a ruptura artificial das membranas (ruptura da bolsa) para aceleração do trabalho de parto; o Kristeller (pressão no fundo do útero para ajudar na expulsão do feto), que traz consequências danosas para a parturiente e seu bebê; o parto em posição litotômica, contrária à anatomia e à gravidade, quando é recomendada a verticalização da parturiente; o fórceps sem indicação ou com finalidade didática, que pode trazer sequelas tanto para a mulher quanto para o neonato; a negação da aplicação da analgesia farmacológica e a realização de cesariana sem indicação clínica ou consentimento da mulher, o que aumenta o risco de morbimortalidade, dentre outros. As intervenções ao neonato, que se estável, perpassam pela separação da sua mãe; aspiração oral e nasal; ausência de promoção da “hora ouro”, realização dos primeiros cuidados longe da mãe, dentre outros.³ Ademais, as intervenções abusivas, desrespeitosas e não humanizadas podem ser consideradas como violência obstétrica.
E ainda, a não aplicação de tecnologias leves como: o respeito à parturiente e sua família; a ambiência garantindo um ambiente seguro, empático, promovendo o bem-estar; o tratamento cordial; privacidade; a permissão do acompanhante de livre escolha da mulher; uma assistência multiprofissional, dentre outros, também podem contribuir para intervenções desnecessárias e desfechos desfavoráveis. O desrespeito a estes, pode levar à maior tensão da parturiente, o que interfere diretamente no seu estado emocional e na evolução do trabalho de parto, bem como quanto a sua insatisfação com o momento.
As intervenções sem evidências científicas e que podem levar a iatrogenias podem ser mais frequentes em um contexto de desigualdade social, de gênero, minorias étnico-raciais ou imigrantes, pessoas em situações de vulnerabilidade, em abortamento, em adolescentes gestantes, dentre outros, visto que, nestas condições, as mulheres estão mais fragilizadas, estando propensas a vivenciar situações de abuso, desrespeito e/ou maus-tratos. Dentre outras situações que podem desencadear as iatrogenias no parto podemos citar, a estrutura física inadequada da instituição; poucos recursos humanos, o exaustivo processo de trabalho de profissionais de saúde que optam por realizar as intervenções sem analisar a sua prática, por não buscarem se atualizar e trabalhar com evidências científicas, ou mesmo para acelerar um trabalho de parto devido à superlotação da unidade, bem como, a ausência de uma política institucional de humanização, que podem contribuir com utilização de intervenções desnecessárias.
No entanto, a continuidade destas práticas pode ser consentida pelas mulheres, por acreditarem que a qualidade da assistência perpassa a aplicação de intervenções que podem ser “mascaradas” no evento do parto, que culturalmente é tido como doloroso, contribuindo assim para a perpetuação das práticas intervencionistas.
Diante do exposto, conhecer e aplicar as políticas voltadas para esta assistência, tornando-a humanizada, respeitosa e atualizada, são ferramentas essenciais para a mudança dessa realidade, melhoria dos indicadores da qualidade e da satisfação das mulheres e suas famílias. Cabe também aos gestores, investimentos na qualificação e conscientização da equipe, bem como, o acompanhamento da efetiva melhoria destes indicadores.
O enfrentamento desta situação perpassa a formação profissional e a informação às mulheres que, se fortalecidas, saberão e poderão reivindicar seus direitos e resgatar o seu protagonismo no parto e no nascimento, com mais propriedade. E mais, reformular e intensificar as abordagens legais e políticas nacionais de enfrentamento às iatrogenias no parto.
Todo paciente em uso de insulina necessita de automonitorização frequente da glicemia capilar, pelo menos nas primeiras semanas, para ajuste de dose. Se possível for realizar glicemias capilares 3x /dia seria o ideal, pelo menos por uma semana, em horário alternados (alternar sempre a glicemia de jejum com dois desses outros horários: antes do almoço, 2 horas após o almoço, antes do jantar, duas horas após o jantar, antes de dormir); com estes dados pode-se fazer um ajuste mais preciso das doses de NPH e muito provavelmente inserir a insulina regular pré refeições, após avaliar as glicemias capilares ao longo de uma semana. Quanto à aplicação da insulina, o paciente deve receber orientações sobre a aplicação correta e deve conferir posteriormente como o paciente está aplicando. Lembre-se que a insulina de frasco não deve ser mais utilizada após 30 dias que tiver sido aberta; Quando em uso concomitante de insulina regular e NPH em algum horário, reforçar que se deve sempre aspirar a Regular primeiro (pois, caso contrário, "contamina" a Regular com a NPH, e essa perde seu efeito “rápido”). Orientar a correta aplicação das injeções e rotatividade das áreas infiltradas. Por fim, não abster dos cuidados gerais e rotineiros do paciente diabético, como a observação do “pé diabético” e exames laboratoriais periódicos, utilizando-se para isso da integralidade do cuidado, que é um dos princípios do SUS.
Teleconsultor conteudista: Prof Dra Solange Cervinho Bicalho Godoy Coordenadora do projeto Telenfermagem/UFMG
Os desafios do contexto de trabalho impõem estratégias de mediação individual e coletiva que trazem à tona os modos de pensar, sentir e agir dos trabalhadores frente às contradições presentes no ato de trabalhar. O adoecer no trabalho tem relação direta com os modos de trabalhar, com a atividade de trabalho, mas não é só isso. Como já dito, não é uma simples relação de causa e efeito, mas uma complexa rede de relações, encontros, tensões e espaço de luta constante. O trabalho pode gerar medos e ansiedades diversas, relacionadas tanto ao ambiente físico (riscos de acidentes e danos à saúde) como ao ritmo de trabalho e às relações humanas. Exige, por isso, o desenvolvimento de estratégias defensivas na tentativa de preservar a saúde mental e garantir a produtividade. As estratégias buscam garantir o predomínio de vivências de prazer, bem como transformar as dificuldades do contexto de trabalho, de maneira a assegurar a integridade física, psicológica e social dos trabalhadores. Visam tornar possível a superação, a ressignificação e, ou, transformação do sofrimento no trabalho, proporcionando vivências de prazer e saúde no trabalho. Compreende-se que esses processos defensivos que o sujeito utiliza são uma forma para se proteger do sofrimento. Martins (2011) afirma que os trabalhadores não são passivos diante dos constrangimentos organizacionais, pois são capazes de se proteger das situações que prejudicam a sua saúde construindo processos defensivos contra o sofrimento. Para Dejours (2011), os trabalhadores elaboram estratégias de defesa para lutar contra o sofrimento no trabalho, como forma de recusa da realidade.
Essas estratégias são organizadas em torno da negação do real, isto é, negar aquilo que gera resistência ao domínio técnico. As estratégias defensivas contribuem para assegurar a coesão e a construção do coletivo de trabalho, ou seja, a cooperação também com vistas a atender os objetivos fixados pela organização do trabalho (DEJOURS, 1994).
Teleconsultor conteudista: Profª Drª Eliane Marina Palhares Guimarães Diretora da Escola de Enfermagem da UFMG
Na sociedade contemporânea as tecnologias de comunicação e informação têm transformado as relações pessoais e profissionais de forma a provocar o encurtamento das distâncias e permitir o acesso a oportunidades de capacitação, que nos moldes tradicionais de ensino não seriam viáveis. A intermediação por recursos tecnológicos cada vez mais tem sido utilizada nas iniciativas de capacitação profissional, que incluem as modalidades semi-presenciais e à distância.
O cenário da Enfermagem no Brasil aponta diversas situações que limitam a participação dos profissionais em atividades de capacitação, especialmente aquelas oferecidas na modalidade presencial. Entre estas limitações citamos as dimensões continentais do país e a concentração de atividades de capacitação nos grandes centros; a necessidade de deslocamento; o investimento financeiro; a necessidade de afastamento ou de desligamento de um emprego, considerando que muitos profissionais possuem mais de um emprego e que nem sempre o afastamento é permitido. Somado a este quadro, temos de considerar características relacionadas ao gênero, pois na Enfermagem, a maioria dos profissionais são mulheres e, com frequência, desempenham também funções domésticas durante a jornada diária.
As modalidades semi-presenciais e a distância requerem do profissional disciplina e empenho para a consecução dos objetivos. Tendo como referência a andragogia, estudo de adultos, a disciplina é fundamental, pois o aprendiz estabelece o seu ritmo de estudo e torna- se ator do processo de aprendizagem, sendo co-responsável pelos resultados. É importante destacar alguns desafios a serem enfrentados pelo profissional neste processo: o estabelecimento da interatividade, o desenvolvimento da auto-educação e da consciência crítica e o gerenciamento da própria educação. Por parte do professor/instrutor, os desafios são vivenciados na definição do processo pedagógico que inclui o conhecimento prévio do profissional educando, a construção do material didático, a organização e processamento dos conteúdos mediatizados pela tecnologia, além do processo de avaliação do conhecimento adquirido pelo profissional. Diante do exposto, consideramos que a Telenfermagem, entendida como o uso da tecnologia para intermediar o trabalho profissional, pode contribuir efetivamente para a capacitação profissional da equipe de enfermagem, superando as dificuldades e contribuindo para transformar as realidades práticas ao possibilitar a educação a distância.
Teleconsultor conteudista: Enfermeira Thayane Fraga de Paula - UFV Mestranda em Enfermagem - UFMG
O contexto dos direitos sexuais e reprodutivos começou a ser pensado desde a declaração dos direitos humanos, aprovada pela Organização das Nações Unidas, em 1948. Desde então várias foram as leis e políticas buscaram abordar e assegurar tais direitos para os indivíduos, seja em âmbito nacional ou internacional. O planejamento reprodutivo, anteriormente tratado como planejamento familiar, foi assegurado a mulheres, homens e casais pela Constituição Federal brasileira de 1988 e regulamentado pela Lei nº 9.263, de janeiro de 1996. Tal lei entende define planejamento reprodutivo como ações de regularização da fecundidade que garanta a todos os direitos iguais a limitação ou aumento de sua prole1. Contudo, o que se observa muita das vezes é que a responsabilidade acerca da reprodução (ou não) fica restrita apenas à mulher, devido a questões de gênero e aos papeis sociais que são atribuídos ao feminino e ao masculino. Vale destacar que o planejamento reprodutivo apresenta benefícios a todos os indivíduos e não só às mulheres, favorecendo, por exemplo, que homens estejam mais envolvidos no cuidado com a família e sua melhor qualidade de vida2. Os profissionais que atuam na ponta, em especial os da atenção primária, devem promover ambientes integrativos a fim de ampliar aos homens a responsabilidade acerca da concepção e contracepção. A expansão do acesso ao conhecimento sobre os métodos de anticoncepção, seja por meio coletivo ou individual, é uma ação indispensável para que se possa garantir maior autonomia e participação do homem neste processo3. Outrossim, incentivar a presença do homem durante o pré-natal, também se faz uma importante estratégia de integração do mesmo à essa realidade reprodutiva. Por fim, é importante que a ampliação das ações do planejamento reprodutivo voltadas ao público masculino aconteça com frequência e não apenas em momentos esporádicos, para que assim haja maior conscientização do público masculino bem como os mesmos possam usufruir do exercício pleno de seus direitos sexuais e reprodutivos.
Teleconsultor conteudista: Profª. Tércia Moreira Ribeiro da Silva/ EEUFMG
O Programa Nacional de Imunização (PNI) recomenda, desde 2014, a vacina adsorvida difteria, tétano e pertussis acelular (dTpa) tanto para gestantes a partir da 20ª semana de gestação e para as puérperas que não foram vacinadas durante a gestação, quanto para os profissionais que atuam em maternidades e em unidades de internação neonatal (BRASIL, 2014a). A vacina dTpa quando administrada nas gestantes estimula a produção e a transferência transplacentária de anticorpos contra a coqueluche para o feto, assegurando assim a proteção do recém-nascido contra a doença até que ele complete o esquema vacinal com as vacinas pentavalentes (vacina adsorvidas contra difteria, tétano, pertussis, hepatite B (recombinante) e Haemophilus influenzae b (conjugada) aplicadas aos dois, quatro e seis meses de idade (BRASIL, 2014a). A recomendação da vacina dTpa para os profissionais de saúde apoia-se nas evidências científicas de que os adultos são, muitas vezes, assintomáticos podendo transmitir a coqueluche para os recém-nascidos susceptíveis (BALALLAI, 2013). Quanto aos benefícios, a vacina dTpa apresenta baixa reatogenicidade quando comparada às vacinas pertússis de células inteiras ou vacinas celulares inteiras da Bordetella pertussis, como a vacina adsorvidadifteria, tétano e pertussis (DTP). Embora sejam reconhecidos os benefícios da vacinacom o componente pertussis (acelular), o PNI ainda não incluiu a vacina dTpa no seu calendário de rotina, mantendo-a restrita aos profissionais de saúde e gestantes, porque: a) na maioria dos estudos, as vacinas acelulares não são mais eficazes que as celulares na prevenção da coqueluche em todas as suas formas clínicas; b) em geral, as vacinas acelulares, quando combinadas com a vacina Hib, são menos imunogênicas contra este último antígeno do que as vacinas celulares; c) a vacina adsorvida difteria, tétano e pertússis (DTP) é produzida no Brasil; d) o custo das vacinas acelulares é muito maior (BRASIL, 2014b, p.105).
Teleconsultor conteudista: Profª. Tércia Moreira Ribeiro da Silva/ EEUFMG
A primeira etapa da vigilância epidemiológica do sarampo é a identificação de indivíduos com exantema maculopapular, febre e pelo menos um dos seguintes sinais e sintomas: tosse, coriza, conjuntivite (independentemente da idade e situação vacinal) (1). Indivíduos que atendem a estes critérios são classificados como casos suspeitos de sarampo e devem ser isolados (precauções para aerossóis), notificados, coletados exames e, em até 48 horas, o serviço de vigilância municipal deve iniciar a investigação da provável fonte de infecção do sarampo (1). Após a investigação, o caso suspeito será classificado em: importado (infecção ocorreu fora do país), relacionado com a importação (transmissão contraída localmente, mas associado a um caso importado), índice (primeiro caso ocorrido), primário (caso que introduz o surto em uma comunidade), secundário (caso novo, a partir do contato com o caso índice), autóctone (indica transmissão sustentada do vírus na comunidade) ou de origem desconhecida (1,2). O caso suspeito será confirmado se atender a pelo menos um dos seguintes critérios: laboratorial (sorologia ou biologia molecular), vínculo epidemiológico (contato com caso confirmado) ou clínico (não é recomendado na rotina) (1). Em casos de surto de sarampo, espécimes clínicos de casos suspeitos devem ser coletados e submetidos à técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) para identificação e monitoramento dos genótipos e linhagens do vírus do sarampo circulantes (2). Como medida de controle da disseminação do sarampo, em até 72 horas após o contato com o caso suspeito ou confirmado de sarampo, crianças entre 6 meses até 11 meses e 29 dias e indivíduos com situação vacinal inadequada ou desconhecida devem receber uma dose da vacina tríplice ou tetra viral (1). Gestantes e crianças menores de seis meses de idade não devem receber a vacina. Pessoas imunocomprometidas deverão ser avaliadas nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais antes de serem vacinadas (CRIE) (3). O caso deve ser encerrado em até 30 dias, registrado no Boletim de Notificação Semanal e no Sinan (1) .
Teleconsultor conteudista: Dr. Gustavo Penna/ Médico
Entre os fatores que podem contribuir para a piora do controle glicêmico são: ● Baixa adesão à dieta, exercício, ou terapia, ou efeitos adversos dessa (como ganho de peso em uso de insulina). ● Uma doença intercorrente, condição aguda ou a ingestão de medicamentos que podem aumentar a resistência à insulina, interferir com a liberação de insulina, ou aumentar a produção hepática de glicose Este último fator é particularmente importante em pacientes idosos em uso de vários medicamentos. ● “Inércia clínica” -alterações na terapia instituída com frequência ou intensidade aquém da necessária para correto controle da doença. Um estudo de base² populacional de mais de 7200 pacientes com diabetes tipo 2 demonstrou que muitos pacientes permanecem com níveis de A1C mais elevados do que o ideal por anos porque as mudanças na terapia para melhorar o controle glicêmico não foram feitas ou foram feitas de forma lenta (Nível B de evidência).
Paciente com DM2 em uso de insulina basal, mantendo controle glicêmico insatisfatório: o que fazer?
A dieta e as atividades físicas devem ser revisadas nos pacientes em que o controle glicêmico é ruim apesar da terapia insulínica. Em geral, uma dieta inadequada e/ou doses insuficientes de insulina são a base da falha terapêutica desses pacientes. Observados esses aspectos, ao invés de aumentar indefinidamente as doses das insulinas basais, recomenda-se associar uma insulina rápida ao esquema de aplicação de insulina (4 a 10 UI em cada refeição). Essas reposições insulínicas usando o esquema basal/bolus estão indicadas para pacientes que necessitam de controle glicêmico intensivo e passaram a apresentar glicemias pós-prandiais acima dos objetivos glicêmicos, a despeito de estarem em uso de insulina NPH. A análise das glicemias capilares pós-prandiais obtidas pelo paciente orientará na adoção dos esquemas abaixo: Esquema 1: manutenção da insulinização basal e adição de insulina Regular ou, de preferência, um análogo de ação ultrarrápida (Aspart, Lispro ou Glulisina), antes da principal refeição do dia. --> indicação: hiperglicemia pós-prandial a despeito do Esquema 1. Esquema 2: manutenção do esquema 1 e adição de insulina Regular ou, de preferência, um análogo de ação ultrarrápida (Aspart, Lispro ou Glulisina), antes de uma segunda refeição do dia. --> indicação: hiperglicemia pós-prandial ocorre após mais de uma refeição, a despeito do Esquema 1. Esquema 3: Insulinização plena convencional (insulina NPH e Regular antes do café da manhã e jantar) A terapia conjunta de insulina regular (antes do café da manhã e do jantar) e de NPH resulta em quatro picos de ação, cobrindo a manhã, tarde, noite e madrugada. Sua dose ótima depende de vários fatores, incluindo nível glicêmico atual, conteúdo de carboidrato da refeição e atividades físicas. No ajuste das doses da insulina, procure acertar inicialmente a glicemia de jejum (menor que 110), em seguida as glicemias pré-prandiais (menor que 110) e posteriormente as glicemias pós-prandiais (duas horas após refeição menor que 140).
Teleconsultor conteudista: Dr. Gustavo Penna/ Médico
A American Diabetes Association (ADA) e European Association for the Study of Diabetes (EASD) elaboraram uma diretriz de consenso1, em 2006, para a tratamento para diabetes tipo 2, as quais recomendam mudança de estilo de vida - MEV - juntamente com a administração de metformina (na ausência de contra indicações), como tratamento inicial de escolha de DM2 (MEV isoladamente poderiam ser tentadas durante 3 a 6 meses em indivíduos pouco sintomáticos e muito motivados com A1C2000mg/dia; (recentemente, acrescentou-se às nossas opções o glifage XR - metformina de liberação estendida) (Nível D). Quando o objetivo do tratamento de A1C < 7%, em uso de metformina e intervenções no estilo de vida, não é alcançado dentro de três meses, as opções terapêuticas para aqueles pacientes que falharam à terapia inicial com metformina e intervenções no estilo de vida são insulinização ou adição de um segundo medicamento com mecanismo de ação diferente (sulfoniluréias, glitazonas, inibidores de DPP4 ou análogos de GLP-1)1 (Nível A). Não há consenso sobre qual opção é mais efetiva¹. Alguns estudos mostraram as vantagens da adição de uma terceira droga quando a terapia com duas drogas não alcançou ou não mais está conseguindo manter as metas glicêmicas2. Se uma terapia tripla sem insulina for escolhida, o paciente tem de ser monitorado atentamente e a abordagem mudada precocemente caso seja observado um insucesso, visto que muitos meses de hiperglicemia devem ser evitados, haja visto as potenciais complicações agudas e crônicas advindas dessa. Sempre, nos pacientes que estão fora da meta almejada para o adequado controle glicêmico, há de se reforçar, concomitantemente às etapas de reajustes de medicamentos, um ação coordenada, longitudinal e multidisciplinar visando supervisão da aderência à dieta orientada, da realização de atividades físicas regulares e do uso correto e regular das medicações.
Teleconsultor conteudista: Enfermeira Thiara Joanna Peçanha da Cruz
O Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional (IVCF) é um instrumento que aborda aspectos multidimensionais da saúde do idoso. É composto de 20 questões, útil para direcionar o atendimento dentro da equipe geriátrico- gerontológica, distribuídas em oito seções: idade (1 questão), auto percepção da saúde (1 questão), incapacidades funcionais (4 questões), cognição (3 questões), humor (2 questões), mobilidade (6 questões), comunicação (2 questões) e comorbidades múltiplas (1 questão). Cada seção tem pontuação específica que perfazem um valor máximo de 40 pontos. Quanto mais alto o valor obtido, maior é o risco de vulnerabilidade clínico-funcional do idoso. No domínio Cognição é possível rastrear síndromes demenciais como a Doença de Alzheimer e no domínio Humor é possível rastrear sintomas depressivos. Para o Alzheimer que é apenas uma das incapacidades cognitivas, e a mais prevalente, pode ser rastreado pelas perguntas:
- Algum familiar ou amigo falou que você está ficando esquecido?
Se não, 0 pontos e se sim, 1 ponto.
- Este Esquecimento está piorando nos últimos meses?
Se não, 0 pontos e se sim, 1 ponto.
- Este esquecimento está impedindo a realização de alguma atividade do
cotidiano?
Se não, 0 pontos e se sim, 2 pontos.
E para depressão as perguntas consistem em:
- No último mês, você ficou com desânimo, tristeza ou desesperança?
Se não, 0 pontos e se sim, 2 pontos.
- No último mês, você perdeu o interesse ou prazer em atividades
anteriormente prazerosas?
Se não, 0 pontos e se sim; 2 pontos.
Ao pontuar sim em qualquer uma dessas questões já sinaliza para o profissional que a avaliação deve ser aprofundada nesses quesitos, devem ser feitos outros testes e exames mais específicos para a confirmação do diagnóstico. Mas a confirmação do diagnóstico pode ser feita pela equipe especializada. O importante para a equipe da atenção básica é identificar a suspeita precocemente e encaminhar para equipe especializada.
O ivcf-20 é um excelente marcador para o acompanhamento longitudinal do idoso e assim através da pontuação perceber se idoso declinou, manteve estável ou melhorou sua funcionalidade. Todo material para orientação do uso do Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20 (IVCF-20) pode ser acessado através do site: www. ivcf-20.com.br
Teleconsultor conteudista: Enfermeira Sabrina Daros Tiensoli
Como atualmente, nas publicações do Ministério da Saúde (Cadernos de Atenção Básica – Controle dos cânceres do colo do útero e da mama - 2013; Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero - 2016), a inspeção visual com ácido acético (IVA) e o Teste de Schiller não estão mais descritos na coleta do exame citopatológico do colo do útero (1), não estamos mais realizando esses testes em nossa unidade básica de saúde. O teste do ácido acético desidratada as células do colo de forma heterogênea, sendo o seu efeito mais pronunciado nas células atípicas que nas células sadias e o resultado final é uma coloração esbranquiçada em todo o tecido que for composto por células suspeitas. Já o teste de Schiller, que consiste em corar as células com iodo (lugol), é positivo quando o epitélio desprovido de glicogênio não se cora, como nas lesões intraepiteliais de alto grau e carcinoma invasivo. Porém, a especificidade da inspeção visual do colo com iodo é baixa, já que o epitélio colunar normal, áreas de erosão das camadas superficiais e intermediárias do epitélio escamoso e inflamação intensa também não se coram (2). O Teste de Schiller pode gerar resultados falsos negativos ou falsos positivos, e levar a mulher a uma preocupação desnecessária até o recebimento do resultado do exame. A IVA, apesar de ter menor especificidade que o exame Papanicolau, é recomendada em países. Portanto, o Papanicolau é o exame mais confiável e com menores taxas de falsos positivos e falsos negativos, quando realizado com técnica adequada (2). Dessa forma, não realizamos mais a IVA e o Teste de Schiller. onde não há um programa de rastreamento eficaz (3). Não existe evidência científica para o uso do Teste de Schiller como medida de rastreamento para lesões precursoras de câncer de colo de útero.